Sempre odiei
mudanças. Para mim seria perfeito pegar um instante de profunda alegria e
colocar em um receptáculo conservador do universo. Para sempre. Eternamente.
Mas vivemos aprendendo sobre a finitude. Há sempre um novo tempo, uma nova
canção, uma nova dança. Parece que foi ontem que eu sentava no colo do meu pai
e ele me beijava e dizia que eu seria o seu futuro, eu olhava para ele com a
certeza perfeita de que ele duraria para sempre. Pais não deviam ser para
sempre? Não devia ser para sempre a sensação de paz? Infelizmente, não é.
Quando eu tinha uns 6 anos eu e meus irmãos tivemos um dia perfeito, eles bem
mais velhos que eu, sempre me cuidaram. Nesse dia brincamos e rimos até bem
tarde, quando estava perto dos nossos pais chegarem corremos pro quarto e fingimos
estar dormindo. Todos juntos. E eu tinha a sensação de que estaríamos juntos
para sempre. Queria que aquela sensação durasse para sempre, mas a vida se
encarregou de moldar nossas vidas e cada um foi para um lado. Não poderíamos dividir
o mesmo quarto para sempre, não é mesmo? (risos). Quando minha irmã casou e foi
morar em Portugal eu sentia como se tivessem arrancado um pedaço do meu corpo
fora, doía tanto e ninguém conseguia entender ou mensurar. Mas o dia que ela
voltou para o Brasil foi um dos dias mais felizes da minha infância. E as
minhas sobrinhas, também crianças, vieram para os meus braços. Deviam encapsular
aqueles abraços... Então tomaríamos uma boa dose de abraços, sempre que o mundo
estivesse um caos. Que sensação maravilhosa quando quem amamos volta para nós...,
Mas sobrinhas também crescem e partem, ou são tão bem sucedidas que mesmo
pertinho, falta tempo. Eu passei em quase todos os vestibulares/enens/testes
que fiz. Mas o primeiro... O primeiro eu estava tão angustiada, tão preocupada
em não decepcionar ninguém, que passei mal e dormi na prova. Eu perdi muito
tempo e fiz uma prova, muito, muito ruim. No dia que eu fui olhar o resultado
dessa prova saí de casa cedo e fui até uma lan house, lembro que me achei a
mais insignificante das pessoas do mundo, chorando entrei na internet e comecei
a desabafar, um estranho começou a conversar comigo, ele disse que fez
vestibular cinco vezes até passar, contou que já tinha trocado de curso várias
vezes, recitou poesia, cantou uma canção e fez piada, me fez rir e entender que
eu estava começando os meus passos e que a estrada era linda! Um completo
estranho parou tudo para filosofar sobre a vida comigo. Aquele momento de
encontro de estranhos completamente puro e desinteressado, em que um “anjo”
conseguiu acalmar um coração em pedaços... Aquele momento deveria ser eterno.
Mas nos despedimos e eu sequer sei quem foi aquele amigo. Eu acredito que Deus
coloca anjos na estrada para nos dar a mão quando a gente cai e acha que nunca
mais vai conseguir levantar. Uma semana depois passei no meu primeiro
vestibular. Tantas histórias e muitas mais eu teria para contar, só para dizer
que a vida sempre vem e muda tudo. Põe a gente de cabeça para baixo, rouba nosso
chão, coloca gente que a gente nunca ia conhecer no nosso caminho, tira pessoas
da nossa vida, muda nosso rosto, mudam as histórias, mudam os ouvidos e as
canções. O tempo é o maestro da canção que Deus compôs. E a gente vai dançando
com os astros num cintilar musical e etéreo. Rodopiando e chorando.
Harmonizando os passos e sorrindo. Gargalhando nos compassos. E meditando nos
acordes. Das coisas que mudam apenas uma coisa não mudou: Eu! Eu ainda sei guardar
eternidades dentro de mim. Sim, porque tudo isso que passou ainda existe aqui
dentro. E eu serei, enquanto eu existir, o receptáculo conversador desse
universo. Vive em mim o meu pai, afinal, apenas eu sei como é aquela perfeita
sensação de estar no seu colo e sentir que nada no mundo pode me fazer mal. As
minhas pequenas sobrinhas ainda brincam comigo na minha memória, mais ninguém
nesse mundo possui o exato sentimento de amor que eu sempre sentirei por elas, os bons momentos com meus irmãos e a
importância que eles sempre terão pra mim, só eu. Só eu sei a exata essência de
cada instante. Eu existo para eternizar esses instantes e quando eu me for
levarei essas eternidades comigo para os braços do altíssimo. Tenho certeza que
Ele coleciona esses pequenos milagres alegres e se regozija com eles. Até lá...
sigo guardando eternidades em mim
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