Sendo a Lua

Uma vez eu disse que não tinha medo do escuro. Eu tenho medo é do claro. É na claridade que as pessoas mostram suas verdadeiras faces, é na claridade que os monstros se revelam. Não no escuro. Sendo a Lua a escuridão me protege e acalma.

Ser a Lua também tem a vantagem de ser solitária, divido o céu com muitos astros celestes, mas eles estão a milhares de anos-luz. E a solidão por vezes é acolhedora. Pacificadora. Gosto de me pacificar. Detesto multidões, odeio o barulho da aglomeração. Sendo a Lua eu sou  o mais próximo de mim que já pude ser. Sou eu mesma.

As fases que me perfazem dizem muito de mim. Eu... Que já quis ser só uma estação, mas sou explodindo no tempo, primavera, outono, inverno e verão. Tenho fase de querer ficar sozinha, apenas comigo, fase de me sentir pequenina e impotente, fase de me sentir gigante, fase de achar que estou regredindo, fase de "amadurescência". 

Já me encantei com eclipses, já influenciei mares, já me vi perdida em pleno dia, achando que era noite. E hoje sou mais Lua que em qualquer outro dia. Queria que nuvens me encobrissem a visão, para que eu pudesse ver a mim mesma e não as coisas que nunca terei.  Mas hoje as nuvens não apareceram e pude ver o que na verdade sou: um pequeno satélite a vagar no espaço, rondando por um bom par de sempre, a Terra...