Reminiscência

 


Eu tenho essa estranha mania de sobreviver. Se algo vai me machucar arrumo jeitos de me proteger, me mantenho segura. Eu mantenho a sanidade.

Poucas coisas doeram mais do que aquele adeus, por isso eu guardei em algum lugar bem profundo, de acesso difícil.

Música. Letra. Mãos. Estrada. Sinuca. Abraço. Chocolate. Toque. Perfume. Rodoviária. Aeroporto. Adrenalina. Adeus.

Ninguém nunca entenderá o que tudo aquilo foi. Se eu caí? Tentei. Já que o voo não era possível, mas não consegui. Parece que tudo foi conjurado nas entranhas do Universo. O problema de guardar algo tão bem guardado é que não se perde. É que fica ali e um dia do nada tropeçamos nas lembranças. Um dia emerge das entranhas.

Há dias eu tenho me revirado por dentro para achar meios de manter a lembrança em mim sem que isso me afete, já que quanto mais tento arrancar, mais renasce, feito mato verde. E eu não poderia lançar veneno para matar por dentro, até tentei, mas percebi que matar isso por dentro era também matar uma parte de mim, ali.... Naquela pequena eternidade em que vi estrelas do mar. Eu não posso matar o que é eterno, talvez você não saiba disso. Mas eu sei. Eu descobri dos piores jeitos.

Hoje eu escrevo de partes rasas e vazias, sobre a parte profunda e densa, eu lanço as palavras e espero que o vento leve até o litoral. Será que esse tipo de mágica ainda existe? Daqui a pouco faz uma década, mas eu sinto agora. É tudo hoje.

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