Apócrifa

  

Das sombras e breus da vida,

Vielas, becos e charcos,

Mui longe de árvores-barcos,

De uma vida santificada e ungida.

 


Do sul, bem ao sul do norte,

No ponto mais descabido do mundo,

No abismo mais íngreme, profundo,

Beijou a vida, saltou da morte.

 

Marcada com a marca da dor,

Nascida para ser renegada,

Esquecida por muitos, doada,

Apócrifa de tudo com louvor.

 

Mas o destino vil e brincalhão

Achou pouco todo desamor.

Pôs no seu caminho um orador,

Limpo em toda sua extensão.

 

Agraciado do bem mais nobre:

Ser da luz um pertencido.

Amado por Deus, por Ele favorecido,

Tão diferente daquela alma pobre.

 

Cruzou o universo, deles o caminho,

Na junção mais descabida de se pôr

Em um misto de paixão e tolo amor

Numa taça do mais doce e amargo vinho.


Mas trouxe o céu para ela!

Fez sentir inteira e pertencer.

Desejar tudo que não podia ter.

Unir Mar e céu numa só tela.

 

Doce engano tolo e apaixonado...

Ela ainda era ela: abismo e escuridão.

Doada à noite, filha da solidão.

E ele ainda era de Deus o adorado.

 

Seus caminhos se espalharam novamente,

Treva e luz não podem coexistir.

Ambos decidiram por partir,

Afim de protegerem os inocentes.

 

Mesmo chegando ao fim dessa história,

 Presente mudado e terminado o futuro.

Por mais difícil de aceitar, e duro,

Há coisas que ficam na memória.

 

Não se apaga algo tão intenso e bonito.

No Eterno ficam escritos para sempre,

Dele não sei, mas sei que ela sente,

Tudo isso que eu hoje vos repito.

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