Se fosse ser para sempre não seria tão doído. Não existiria
tantos espinhos ao me aproximar. A paixão que ele sentia por mim, não teria
evaporado. Os silêncios seriam preenchidos por musica, e os medos sanados. Mas, ao invés disso, o que há é uma insistência solitária e minha. Uma falta de respeito com o adeus
tantas vezes pronunciado, por ele. Uma alienação ao fim persistente. Uma
miragem de tudo que foi, do que poderia ainda ser, se fosse... Eu poderia
implorar pra que ele levasse embora essa tristeza, tão minha, esse vazio, tão
meu. Mas seria em vão.
É que naquele tempo ele era a loucura e eu a razão. E eu
amei a loucura. O sair do chão. Vagar por abismos. Quantas vidas eu teria que
viver para sentir a pele tremer, o coração acelerar? Eu não sei... Sei dessa que
tenho. Sei que preciso viver. Se ele não precisa mais, se não sente mais, se já
tem tudo que quer, está tudo certo. Sempre o certo.
E sempre vai existir esse abismo entre o que é supostamente
certo e o que é satisfatório. Mas eu não sou certa. Eu assumo meu crime
hediondo: amar, amar e amar. Sou ré confessa e sem direitos. E não vou fingir
me sentir culpada por querer tanto bem a alguém. Todavia, aceito minha punição. O
exílio e o voto de silêncio. E aceitar essa droga de punição, esse inferno imposto é a única precaução que eu vou tomar.
E isso porque não há mais aquela paixão do início por parte dele. Isso porque não há mais nada do outro lado. Então que seja... Só que, eu
preciso tanto das curvas e abismos. Daquele ar entre as asas. Da fome que não
passa. Dos tremores... Preciso de tudo e quero tudo. Então Deus, se posso lhe pedir
algo, hoje, é que não seja para sempre. Ele tem tudo que quer e precisa e já me
esqueceu, eu o quero mais que tudo, mais preciso esquecer.
Um dia ele disse que ia Lhe fazer um pedido: “Eu vou pedir a
Deus você pra mim”. Mas não é isso que ele quer. Nunca quis! Peço, imploro até,
que eu seja de qualquer outro. Assim ele terá a paz que precisa e merece. Faça com
que eu me apaixone novamente. Ainda que doa. Ainda que meu coração já tão
machucado perca as poucas defesas que ainda tem. Faça com que eu o esqueça,
assim como ele me esqueceu... Se fosse ser para sempre ele ainda sentiria tudo.
E o Senhor sabe que já não é assim. Ele não sente. Ele nem sequer sabe que eu existo.
que texto lindo *-* Adorei, você escreve muito bem.
ResponderExcluirSeguindo o blog,
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