Todos cansam 

‘’Mas nós, quando enfiamos os espinhos no peito, nós sabemos. Compreendemos. E assim mesmo o fazemos. Assim mesmo o fazemos.” —Pássaros Feridos   

Texto: Juliana Lira 

Ela revirou os armários. Roupas ao chão. A mala aos seus pés. Tantas vezes pensara em partir, mas a lembrança de um riso distante e vozes felizes a impedia. Dessa vez não. Não podia mais viver de lembranças. Olhou a foto no porta retrato, uma imagem de perfeição. Quantas tantas vezes não mencionara aos amigos como o que eles tinham juntos era único. Sublime. Tocou a imagem feliz da foto, viu seu próprio rosto sorridente olhando pra ele com ternura, e ele sorrindo apaixonado. Naquela imagem o amor ficou eterno. Retirou a foto do porta retrato e enfiou em uma gaveta qualquer. Não levaria, não levaria nada que a fizesse pensar em dar meia volta. Enfiou as roupas de todo jeito dentro da mala. Tentou fechar o zíper, emperrou, sentou em cima. Conseguiu. Tinha tanta pressa. Queria sair rápido dali, antes que lhe faltasse à coragem. Antes que ouvisse os sons das lembranças.

-Shhh, silêncio!

Pediu ao gato, que ronronava alto entre suas pernas. Afagou o gatinho, ela era alérgica a gatos, mais uma das concessões que fez a ele. E foram tantas que olhando o espelho nem conseguia se reconhecer.  Ao menos o gato a fazia rir entre um espirro e outro. Deu uma ultima olhada no quarto, um aperto no peito fez rolar uma lágrima. Sacudiu a cabeça, não! Não faria mais isso consigo. Saiu do quarto arrastando a mala, passou pelo corredor silencioso, cozinha, sala, porta da frente.  Abriu a porta e uma brisa tocou seu rosto. O celular, tocou era ele. Ela atendeu:

- Não faça isso. Se sair por essa porta não precisa voltar nunca mais!

Vacilou. A perna tremeu inteira. Por um milésimo de segundo pensou em olhar pra trás. Então respirou fundo e respondeu:

 - Não se esqueça de alimentar o gato.

 Desligou o celular. Colocou uma perna fora, depois a outra. Fechou a porta e olhou o horizonte. Um infinito de possibilidades para alguém que, no momento se sentia menor que uma formiga. Sentiu um frio na nuca. Medo. Tristeza. Confusão... Olhou os vários caminhos que poderia tomar e lembrou-se de um fim de tarde de mãos entrelaçadas:

 -Apenas confie em mim. Confie em mim.

 - Tenho medo.

- Não tenha. Eu cuido de você, protejo você.

Muitas outras lágrimas seguiram aquela primeira, mas ela as secou com as mãos. Ele nunca a protegeu. Nunca. Sempre tinha sido ela quem cuidara para que nenhum dia dele fosse de chuva.  Olhou mais uma vez os caminhos e por fim se decidiu. Iria pra frente! Sempre pra frente...

2 comentários:

  1. Boa noite,
    Realmente,todos cansam,precisamos de novos rumos.
    Inspirador seu texto :)

    Beijão e se cuida
    www.rimasdorpeto.com

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  2. Ahhh, mas o gatinho vai sentir falta dela! T___T
    Ela tinha que levar ele também!! ><
    Torço por uma continuação que a mocinha cure as ferias e encontre o verdadeiro amor!
    <3

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