Quanto?

 


Quanto de devastação, quanto de avesso, quanto de medo um corpo humano é capaz de suportar?

Eu não sei se é possível quantificar dor de alma. Em uma escala de 1 a 10 quanto você já não suporta mais? Em uma escala de 1 a infinitos milhões, quanto você gostaria de parar de sentir isso, agora? Infinitos zilhões.

Um corpo humano não é capaz de suportar tanta dor. Adoece. Ele se sabota. Cria meios, ele provoca sintomas. A alma é muito vasta para esse nosso corpo. E por isso alguns pintam, fazem música, escrevem poemas. Nossos corpos são rasos para a nossa essência. Essas taças pequenas e frágeis? Talvez o Pequeno Príncipe soubesse disso, não, definitivamente aquela não é uma história para criança. É uma história para quem ouve o riso nas estrelas.

Pessoas como nós não enxergam o mundo preto e branco, não conseguimos ver apenas certo e errado. Nos mostram duas portas e pensamos: Por que não podemos usar uma janela? Por que não podemos pegar a droga de uma picareta e abrir uma nova opção? E é por isso que gente como nós não cabe nesse corpo. Nem cabe nesse tempo. Nem acha lugar nesse mundo. A gente precisa das estrelas.

Uma pergunta que já fiz aqui no “Reticências...”, quantas vezes um coração aguenta ser quebrado? Eu ainda não tenho essa resposta. Eu já nasci com o coração quebrado e desde então venho colando e recolando por muitas vezes e ele vai mudando de forma, ele vai ficando mais duro, ele vai mudando de cor, e o corpo... claro, o corpo vem sentindo.

O corpo implora por pausa. Ele diz: “Olha, ali as estrelas! Se lança no universo. Pausa a dor. Abraça o infinito perfeito e amoroso que chamam de Deus”. E então, eu respiro fundo e respondo: “Ainda não acabamos aqui. Ainda não encontramos o desenho certo. Sê forte e corajoso, coração! Eu te conserto mais essa vez, empurre mais essa dor”. E a gente pinta sorrisos no rosto, ouve os problemas de alguém e disfarça que a maior dor do mundo mora dentro do nosso peito.

Em 2017 um cientista japonês descobriu por acidente um vidro que se conserta sozinho ao ser quebrado. Os ossos do nosso corpo também têm essa capacidade mágica. A nossa alma não, ela precisa de ajuda, ela precisa de fé.

 Lembro que quando era adolescente e carregava bastante sofrimento no meu coração eu fazia sempre a mesma prece a Deus. Eu dizia: Deus, eu sou uma árvore em crescimento, pequena ainda. Ventos e furacões me envergam dia após dia. Arrancam minhas folhas, machucam meu ser. Não permita que me quebrem, Senhor. Que eu me entorte, mas não quebre. Que eu seja mais forte que tudo isso. Que eu esteja aqui amanhã. E que eu volte a florescer.

Dia desses estava falando com a senhorinha da jardinagem, sobre uma arvorezinha que estava seca, triste e morta. O vento e o calor acabaram com ela. E eu disse para ela que devíamos arrancar e substituir. Mas ela, sorrindo, pegou um canivete e fez um corte no caule, estava verde por dentro. Ela estava viva!

Não! Eu não sei quantas vezes um coração aguenta ser quebrado, ou quanta dor consegue suportar. O que eu sei é que há mais do que isso aqui que vivemos. E essa certeza me regenera. Me mantém firme. Sem dúvida alguma um dia serei as estrelas, mas até lá, até lá eu serei como o vidro descoberto no Japão, como a arvorezinha do jardim. Ainda que partes minhas jamais sejam como antes... Eu serei inquebrável.

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