Sobre não enlouquecer


Quem disse que o tempo cura tudo deve estar morto a essa altura. Cura não. Tempo só faz com que as coisas se tornem menos insuportáveis. Menos esmagadores no nosso peito. Ou talvez eu esteja errada. Talvez o tempo cure pessoas normais. Só que se tem uma coisa que eu aprendi em psicologia é que o conceito de “normalidade” é uma fraude. Cada um é e sente de sua própria maneira. Cada um faz o que pode para não enlouquecer.
De minha parte eu tenho feito um grande esforço para me manter sã. Nem sei por que esse esforço. Será mesmo que a sanidade é a melhor escolha? Será que desligar da realidade e criar um mundo onde a dor não é tão insuportável, não é melhor? Honestamente eu não sei. Não sei por que continuo respirando, não sei por que me forço a seguir a rotina. Não sei o que me sustenta de pé. Sei que todos os dias eu acordo. Estou viva! E alguma parte de mim, mais forte que a dor, fica muito grata a Deus por mais um dia.
Penso que tenho que me reconstruir do que sobrou. Mas não sei exatamente o que sobrou. Sei que há alguma fé. Mas de que tipo? E em que? Sei que há muita dor de todos os tipos e medo. Tanto medo que me fecho inteira quando alguém se aproxima de mim. Eu me isolo. Destruo pontes e estradas que tragam qualquer pessoa pra mais perto. E me entorpeço. E me fecho totalmente. Nenhum sorriso verdadeiro. Nenhum esforço pra ser sociável. Foi isso que restou.
Medo... Medo de como as pessoas podem magoar, ferir sem pensar duas vezes. Medo de como as pessoas são capazes de seguir suas vidas e me deixarem pra trás sem titubear. Medo das palavras. Medo das respostas. Medo! Acho que adquiri fobia de gente. Não sei se o tempo “curador de tudo” é capaz de curar isso não. Pelo contrário. O tempo passou e me mostrou que é melhor mesmo eu ter cuidado.
E eu poderia falar de como tudo perdeu o viço e as cores a graça. De como não me importo mais com meu cabelo, de como a poesia tornou-se uma bandida vadia, vendida às lembranças que não passaram de mentiras, de como as palavras são vãs perante as angustias e os laços de morte são suaves. De como se fez doce o sono profundo e cálido em meio ao tormento de está de olhos abertos...
Não falo. Não falo nada. Então me forço a escrever, ainda que tenha perdido o talento, a inspiração. Ainda que escrever não seja mais por paixão. Eu escrevo para não enlouquecer. Escrevo no esmagador silencio dos dias. Este silêncio certamente é melhor que a duvida de me perguntar: Até quando? Até quando essa pessoa vai ser doce e bondosa? Quando virá o punhal de veneno e descaso? Quando a vida terá de seguir? A vida sempre segue. A vida sempre segue para todos.
Não. Eu não sei se o tempo cura tudo. Acho mesmo que não. Mas uma coisa é certa. Tão certa como respirar é essencial: desde que novembro passe rápido, que passe logo, voando... Eu continuarei respirando. Parafraseando C.F.A, “Trata-se, portanto de atravessar novembro. Falta pouco. Prometo ser forte. Prometo mesmo? Não garanto, a verdade é que nas últimas semanas não tenho conseguido.”


9 comentários:

  1. Para Brisonmattos

    Gostaria de lhe dizer que já há algum tempo eu não leio mais seus comentários. Digo isto para o caso do senhor ou senhora, resolver dividir sua opinião com alguém que de fato leia. Eu não leio mais. Mesmo se estiver escrevendo algo bom eu já não vejo. Vejo seu nome e imediatamente excluo. Dito isto, desejo que vc homem ou mulher seja feliz.
    ;)

    Milhões de beijos

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  2. OMG! Você escreve muito bem! Sério, amei esse texto... Já passei por um momento assim e você conseguiu colocar todos os sentimentos em palavras. Incrível! Estou amando seus textos *-*

    Bjs

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  3. Escreve mt bem.. Não tem como não gostar do seus textos.
    Sucesso.
    Beijo..

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  4. Vc escreve mt bem. Parabéns.
    Não tem como não gostar do seus textos.
    Sucesso beijo.

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  5. Não creio que o tempo cure..ele só abafa....
    Seus textos são ótimos eu amei..Parabéns
    Beijos

    http://arteasavessas.blogspot.com.br/

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  6. Oi Juliana!!

    Parabéns pelos textos! Você escreve muito bem. Este em especial eu achei forte e triste, mas muito lindo!

    Beijos!

    http://escrev-arte.blogspot.com.br

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  7. Caraca, seus textos são muito bons, quem me dera ter um pouquinho do seu talento rs
    Acho que o tempo não cura, creio que o tempo não cura nada. Amei o texto, parabéns :)

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  8. você é muito crativa, ótimo texto, bons ensinamentos!!

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