Sobre as cicatrizes...

Dia desses estavamos comentando sobre os muitos casamentos de alguns artistas. E meus amigos se espantaram, quando eu lhes disse que admiro isso nessas pessoas. Não o fato deles não conseguirem manter os relacionamentos, mas de terem a coragem para tentar tantas vezes.

Quando eu tinha 4 pra 5 anos a minha babá me empurrou e eu bati com a cabeça no chão. Lembro como se fosse hoje o sangarel. Levei alguns pontos bem na testa. E as pessoas comentavam que ia ficar cicatriz. Ficou. Com o tempo ela diminuiu e agora quase nem se nota, mas ainda hoje se fico muito nervosa ou triste eu toco nela. Ela me diz que nada é tão ruim que não possa melhorar. Pacifica meus tormentos...

Entretanto, me dou melhor com as cicatrizes físicas, que com as emocionais. Palavras provocam mais dor e abandonos me causam mais sofrimento que agressões físicas.  Essas cicatrizes emocionais roubam a beleza da nossa alma. Fazem-nos envelhecer. Descrer. Amadurecer forçadamente. E mesmo que parem de sangrar e de doer, a marca da alma ferida fica ali.

Sei de pessoas que caíram de moto, algumas, quando recuperadas logo voltaram a andar de motocicleta, outras nunca mais quiseram arriscar. É bem assim com o coração da gente. Às vezes a lembrança da dor é tão grande que a gente não quer arriscar. Quantas pessoas que se divorciaram e não querem mais nem ouvir falar em casamento? Quantas foram traídas por amigos e não confiam em mais ninguém?

Eu sou coração que tece no sossego, mesmo pairando sobre abismos. Sou covarde para me partir em pedaços. Eu me protejo. Por isso admiro esses artistas que mesmo com as cicatrizes expostas, se arriscam a tentar outra vez. Torço para que um dia a coragem deles seja recompensada e a minha covardia... Perdoada.