Hoje
tudo que escrevo tem gosto de sabão. Cada palavra parece um caractere
desconexo. Eu me afastei das palavras, eu corri delas, do meu único refúgio. Ainda
deposito as letras em orações e as orações em preces. Eu ainda penso em você.
Mas é uma memória distante e acontece cada vez menos. Antes cada pequena partícula
do mundo me trazia você. E doía tanto! Eu mal podia respirar. Eu precisei de
ajuda para continuar respirando.
Hoje
sigo a rotina dos dias, as vezes eu faço escolhas ruins para ocupar o tempo. Eu
me machuco bastante para não sentir aquela dor. Acho que foi decidido pelo
universo, que eu seria a mais forte, que eu teria de vencer os dias e o tempo. Aceitei
isso. De que sou a mais forte. A que sobrevive.
Você
ainda está nesse mundo? Espero que sim. Às vezes, quando a dor traiçoeira surge
inesperadamente, eu fecho os olhos e respiro profundamente. E penso: Em algum
lugar desse mundo ele também respira e é feliz. Debaixo do céu e dos astros
respiramos o mesmo ar. E isso me consola. Me pergunto se é assim mesmo quando amamos
alguém. Se queremos o bem acima do nosso bem e simplesmente suportamos. Penso
que sim, afinal eu só sei amar assim.
É...
Eu tenho escrito cada vez pior. Parei por um longo tempo. Tentei fechar tudo e
me perdi tentando ser outra pessoa. Mais racional. Mais centrada na política e
trabalho. E tenho pensado, Tenho pensado se o universo ou alguma divindade nos
separou como castigo, sabe? Então não nos encontraremos nessa vida. Não
conseguiremos lembrar um do outro. Não lembraremos da sensação do nosso toque. Ou
da nossa respiração tão próxima. Eu já não lembro de muita coisa. As memórias
estão sendo traiçoeiras. Será que realmente há um você? Será que eu não te
imaginei como a tantos versos e contos? Eu já não lembro a razão de nada. Será
que você lembra?
Mas
eu lembro da ausência. Eu lembro da falta. Eu lembro do vazio. Eu lembro que
era pra ser com você, quando a chuva vem e eu danço sozinha. Nós nunca dançamos
na chuva? Lembro que você seguraria minha mão por cima da mesa do restaurante.
Nós nunca jantamos em um restaurante? Eu lembro que deveríamos dormir tão
juntos que o universo saberia que somos um só. Nós nunca dormimos assim? Eu
lembro da sua mão segurando a minha no cinema. Nós já fomos ao cinema? Eu
lembro que você me ensinaria a jogar sinuca. Você me ensinou? Difícil escolher as partes reais do sonho.
Só sinto
que tem um espaço vazio e é seu. E respiro e me consolo na certeza que respiras
em algum lugar. Mas e se não respirares mais? E se já não estiveres nesse mundo,
como seguirei daqui? Laços de morte me cercam quando penso assim. A Florbela Espanca é uma de minhas poetizas
preferidas e traduziu em versos esse sentimento: “Sou
talvez a visão que alguém sonhou. Alguém que veio ao
mundo para me ver. E que nunca na vida me encontrou”
Nós
nunca nos encontramos. Nós nunca nos conhecemos. Eu nunca senti o seu abraço me
segurando tão forte que nada nesse mundo poderia nos separar. Mas sei que
existes sim, em algum lugar, pois o vazio é do seu tamanho. A saudade ela tem
seu nome, apesar de eu não saber qual é seu nome. Apesar de eu não reconhecer a
sua face. Apesar de eu não saber o som da sua voz. Eu tenho que acreditar que é
real.
Então... Procure por mim! Procure por mim... não desista de me encontrar nessa vida. Me
encontre antes que seja tarde demais. Eu sinto que além das palavras, perco a
cada dia a sanidade e o desejo de estar aqui, nesse planeta. Por isso escrevo tão ruim. Encontre-me depressa. Ainda que
nossas escolhas tenham criado sentenças perpetuas, ainda que nosso mundo rua em dois.
Procure por mim... Eu preciso saber se é
real.
O
seu amor deve ser tão grande quanto o meu. Deve existir em algum lugar a pessoa
que sente o vazio do meu tamanho. A pessoa que respira melhor por saber que eu
estou aqui. A pessoa que me acha no céu a noite. Deve existir em algum lugar. Procure
por mim... recriaremos o universo, enfrentaremos o Olimpo. Seguiremos as
estrelas. Como disse o poeta Vitcor Hugo: “A redução do universo a uma única
criatura, a expansão de um único ser até a divindade, é isso o amor” Então,
você que eu não sei se é real ou se ainda respira aqui.... para que eu não me
perca, para que não cesse minha respiração, me ame como quem acredita na
eternidade. Ame com a fé inabalável e apenas procure por mim...