Baste a quem baste o que lhe basta O bastante de lhe bastar! A vida é breve, a alma é vasta; Ter é tardar.- Fernando Pessoa
Uma palavra. Tudo que preciso é escrever “uma
palavra” e então as outras sairão desenfreadas de dentro de mim. Como ratinhos
correndo. Sempre foi assim, desde que aprendi a juntar as letras. Há pessoas que tem terapeutas, há pessoas que
tem zilhões de amigos, há pessoas que tem rivotril. Eu tenho o que escrevo.
Quando meu coração tá sufocado e a minha
alma chorando. Eu sei que tenho que correr pra o papel mais próximo, o teclado
mais próximo. E escrever. Simples assim.
E aí disserto sobre as minhas ideias mais
tolas e profundas. Choro. Medito e me consolo. Não espero que um dia vá sentar
em uma das cadeiras da academia de letras. Sei que não vou ser recordista de
vendas em livros e que muitas pessoas não vão achar digno ou bom o suficiente o
que escrevo.
Muitas vezes não há quem entenda
nossa maneira de ver o mundo. Chamam de drama. Bobagens. Lentes de aumento, o
que eu chamo de “ser”. Muitas vezes tenho essa sensação de ser visitante
desse mundo, observo as coisas como num filme, vejo as reações, ora fria, ora
agressiva das pessoas e me espanto.Porque o que eu vejo é uma vida breve. Tão
breve que tomo como um milagre tá respirando ainda.
Acidentes acontecem. Doenças
acontecem. Tragédias acontecem e as pessoas continuam vivendo como se tivessem
toda eternidade dentro dessa nossa vida breve. Como se pudessem adiar viver. Como
se pudessem deixar pra amanhã perdoar quem magoou, dá atenção pra pessoa
amada, ser feliz...
Há um código silencioso nessa sociedade
estupida que diz que desde que você obedeça as regras morais, você pode ser
infeliz o quanto quiser.
E eu senti essa vontade imensa de escrever
que hoje eu estou terrivelmente triste. Que odeio o fato de que às vezes a vida
parece estática, como se a vida de todo mundo estivesse em movimento menos a
minha.
Odeio o fato de ver pessoas que eu amo brigando
num loop infinito. Odeio que amigos deixem de ser amigos. Ou que chorar seja um
crime hediondo, mas fazer chorar está perdoado “porque as pessoas tem que
aprender a serem fortes”. Odeio os sequestros da morte. E me preocupo que eu seja a próxima e não
vá ter feito nada de bom ou interessante nesse mundo além de deixar essas
parcas palavras.
A gente devia viver como quem sonha. Fazer
mais coisas, amar melhor... Sei que a vida pode ser uma droga, e o meu coração pode ser trocentas
vezes partido por pessoas que amo. Posso ser esquecida. Posso ser magoada.
Posso nem ser beijada... E no livro da minha vida, posso não ficar com o
mocinho no final. Eu posso não ser astronauta como pensei que seria aos 5. Pode
ser que eu não faça nada grandioso e que minha existência não mude a vida de
absolutamente ninguém.
Não importa! Nada disso importa agora,
quando eu fecho os meus olhos e inspiro esse ar. Eu estou viva! Eu posso sentir
meu coração pulsando aqui dentro e não há nada mais extraordinário que isso.
Não há decepção, abandono, ou dor de perda que mude o fato de que tudo que eu
quero é continuar respirando.
Eu sou uma sobrevivente. E não aceito ser
mais uma observadora desse filme triste. Eu me recuso a abandonar aquilo que
acredito. Se eu estou triste eu vou sentir, chorar, e não há absolutamente
ninguém que me roube o direito de sofrer o que tiver que sofrer. Ilusões farmacêuticas
não vão roubar o que sinto.
Todavia, depois que eu chorar tudo e
escrever tudo que tiver pra escrever eu vou levantar e seguir em frente. Fazer
o meu melhor com tudo que sou.
Eu me recuso a sentar e assistir. Eu não vou
amar menos. Ou sentir menos. Não vou viver apenas de regras sociais e normas
eternas.
Nem santa, nem louca. Eu não sou isso ou aquilo. Sou essa pessoa que faz rir e que chamam de louca, louquinha, louquinha... Mas
também sou a que ouve e dá conselhos nos momentos difíceis, a que usa a lógica
pra solucionar os problemas e estende a mão.
Encontro graça nas coisas mais normais, na rotina, mas também nas coisas mais complicadas e tortas. Choro
por motivos “choráveis”, mas também choro quando meu seriado de TV não vai bem.
Sim eu leio Foucaut, mas também leio
livro de banca e encontro coisas bonitas e boas em ambos.
Eu sou ao mesmo tempo terra, fogo e
ar. Não sou uma coisa só. Nem tampouco uma metade qualquer, sou um ser com
defeitos e qualidades. Excessiva! Dramática? Posso ser... Mas sou autentica.
Posso não ser grandiosa, mas nunca vou desistir do direito de ser eu mesma.
Ah avezinha, essa vida é curta, curta! Um
sopro no vento. Um pedacinho de nada do universo. Faz teu voo ainda que
solitário entre as nuvens desse céu, segue em frente o teu caminho e faz teu
voo. Faz teu voo.


Pasma!! Que texto incrível! Pode crer que estarei entre as pessoas que acham sua escrita digna!
ResponderExcluirDei risada com o seu ''Eu não sou isto ou aquilo'', pois lembrei das tantas vezes que li Cecília Meireles com ''Ou Isto ou Aquilo'' quando pequena. Adorei essa diferença de opiniões!
Gostei bastante do seu texto e super apoio essa sua iniciativa para a escrita
ResponderExcluirSucesso
Beijos
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