É insano amar estrelas, é insano amar o mar...



Dizer que o que tínhamos era insano é o mínimo. Nossa casa, construímos nas nuvens. Nossa cama era a poesia. E a canção foi o cobertor. Culpa minha! Nunca coloquei os pés no chão, nunca tive a sensibilidade das bailarinas ou a coerência das outras meninas.
Eu não. Divago tranquila entre o real e a fantasia até que junto os dois num só, e te entrego pra morder. Você não quis morder! Você sempre teve os pés sujos de areia... Sempre te olhei pensando: “Como posso perder o coração assim, pra alguém tão “normal”?”
Lembrei que quando nos conhecemos, você era apenas um andarilho perdido. Sem rumo, sem confiança. Insatisfeito com a estrada e infeliz com a vida. Acho que te mostrei meu mapa do universo. Quis te desenhar uma estrada nova. Coloquei flores no caminho, enfeitei a paisagem, te disse pra traçar um destino e ter metas.
Plantei a ideia que chegarias a qualquer lugar que quisesse. Não sei, mas desde o primeiro dia acreditei que chegarias a qualquer lugar que quisesse.
Agora te vejo seguro, caminhando pra o destino escolhido. Não me surpreendo que esse destino não seja as nuvens. E se eu disser que do dia pra noite você foi embora, eu vou está mentindo. Há tempos te vejo esvair pelos meus dedos como areia. Há tempos te sinto indo... Agora foi.
Meu Painho que era muito pé no chão, dizia: “Não namore as estrelas, que elas você não pode tocar...” Esse tipo de coisa sabe? Mas sempre fiz uso das asas, nunca acreditei em limites capazes de me parar. O limite é o desejo que emprego, é a fé que transbordo e o foco que verto!
Eu quis te fazer bem. E fiz! Eu sabia que eras a razão enquanto eu sou o subjetivo do subjetivo. Sabia que eras a coerência, enquanto sou a confusa indefinição de ser. Eu sabia! Mas esqueci. A gente esquece o que sabe quando conjuga a felicidade com o universo.
Perguntei baixinho (você não viu, mas eu soluçava um choro contido, o choro dos mares inversos): 

-Eu não existo mais?
E você me respondeu (os pés mais sujos de areia que nunca):
-Existe, o que não existe é o nós, embora nossa história sempre existirá.
E isso rasgou meu peito como um punhal enferrujado. Virei um conto dos Irmãos Grimm? Das coisas que nos aconteceram, acho que te ouvir conjugar nossos verbos no passado foi a mais dolorosa. De repente eu nem era mais literatura, virei história.
E te vi sem jeito. Meio constrangido de me magoar, meio sem graça de me dá “o fora”, meio amedrontado de que eu ficasse ali como sombra. E o meu amor flamejou dentro do meu peito, dizendo pra eu parar! Pra que eu não te forçasse a se sentir mal me magoando. Entende?
Esse meu amor insano, não quer nem ao menos que você se constranja. Porque te conjugo no presente em todos os verbos que me fazem sorrir. E se choro é por não poder conter o eterno. Se choro é por te amar no presente do indicativo e te indico: Isso não vai mudar.
Então, não precisa vim assinar minha carta de despejo, da nuvem que pintamos pro nosso amor viver. Indubitavelmente desataram-se os nós que nos faziam um.Voltamos ao singular. E agora resta a essa metade te desejar o que melhor existir: Que haja paz. Que haja saúde. Que haja sucesso. Que haja amor!
Sim! Que haja amor!... Que amor egoísta e mesquinho seria o meu, se desejasse que o homem que mais no mundo seguisse solitário e infeliz? Que sejas feliz! E que ames!
Porque eu amo. E em todos os amores que eu tiver na vida, mesmo que por um livro rabiscado e antigo, eu sigo amando... Você!


8 comentários:

  1. Desde já me desculpo pelo tamanho do post. Sei que ficou imenso e agradeço quem chegou até o fim e veio comentar.
    Nao deu pra simplificar mais que isso. Seria como tentar colocar o universo em um potinho qualquer. Transborda, cai pelos lados...

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  2. Eu sei que nunca mais encontrarei ninguém que inspire uma paixão.
    Tem um texto de Sartre que gosto muito e que me lembrou o que você disse ....
    "Você sabe, não é tarefa fácil amar alguém.
    É preciso ter uma energia, uma generosidade, uma cegueira.
    Há até um momento, bem no início,
    em que é preciso saltar por cima de um precipício:
    Se refletirmos, não o fazemos."

    Sei que nunca mais saltarei...

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    1. Que lindo esse texto de Sartre Mell

      Eu já saltei meus abismos.
      Já arrisquei e senti.
      Nao falo do amanha. Amanha posso querer saltar de novo.
      Quem sabe nao é?
      Mas como eu disse no texto que escrevi em todos os amores que eu tiver...
      Enfim, lindo esse texto do sartre.

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  3. Você tem medo de se apaixonar. Medo de sofrer o que não está acostumada. Medo de se conhecer e esquecer outra vez. Medo de sacrificar a amizade. Medo de perder a vontade de trabalhar, de aguardar que alguma coisa mude de repente, de alterar o trajeto para apressar encontros. Medo se o telefone toca, se o telefone não toca. Medo da curiosidade, de ouvir o nome dele em qualquer conversa. Medo de inventar desculpa para se ver livre do medo. Medo de se sentir observada em excesso, de descobrir que a nudez ainda é pouca perto de um olhar insistente. Não suportar ser olhada com esmero e devoção. Nem os anjos, nem Deus agüentam uma reza por mais de duas horas. Medo de ser engolida como se fosse líquido, de ser beijada como se fosse líquen, de ser tragada como se fosse leve. Você tem medo de se apaixonar por si mesma logo agora que tinha desistido de sua vida. Medo de enfrentar a infância, o seio que criou para aquecer as mãos quando criança, medo de ser a última a vir para a mesa, a última a voltar da rua, a última a chorar. Você tem medo de se apaixonar e não prever o que pode sumir, o que pode desaparecer. Medo de se roubar para dar a ele, de ser roubada e pedir de volta. Medo de que ele seja um canalha, medo de que seja um poeta, medo de que seja amoroso, medo de que seja um pilantra, incerta do que realmente quer, talvez todos em um único homem, todos um pouco por dia. Medo do imprevisível que foi planejado. Medo de que ele morda os lábios e prove o seu sangue. Você tem medo de oferecer o lado mais fraco do corpo. O corpo mais lado da fraqueza. Medo de que ele seja o homem certo na hora errada, a hora certa para o homem errado. Medo de se ultrapassar e se esperar por anos, até que você antes disso e você depois disso possam se coincidir novamente. Medo de largar o tédio, afinal você e o tédio enfim se entendiam. Medo de que ele inspire a violência da posse, a violência do egoísmo, que não queira repartir ele com mais ninguém, nem com seu passado. Medo de que não queira se repartir com mais ninguém, além dele. Medo de que ele seja melhor do que suas respostas, pior do que as suas dúvidas. Medo de que ele não seja vulgar para escorraçar mas deliciosamente rude para chamar, que ele se vire para não dormir, que ele se acorde ao escutar sua voz. Medo de ser sugada como se fosse pólen, soprada como se fosse brasa, recolhida como se fosse paz. Medo de ser destruída, aniquilada, devastada e não reclamar da beleza das ruínas. Medo de ser antecipada e ficar sem ter o que dizer. Medo de não ser interessante o suficiente para prender sua atenção. Medo da independência dele, de sua algazarra, de sua facilidade em fazer amigas. Medo de que ele não precise de você. Medo de ser uma brincadeira dele quando fala sério ou que banque o sério quando faz uma brincadeira. Medo do cheiro dos travesseiros. Medo do cheiro das roupas. Medo do cheiro nos cabelos. Medo de não respirar sem recuar. Medo de que o medo de entrar no medo seja maior do que o medo de sair do medo. Medo de não ser convincente na cama, persuasiva no silêncio, carente no fôlego. Medo de que a alegria seja apreensão, de que o contentamento seja ansiedade. Medo de não soltar as pernas das pernas dele. Medo de soltar as pernas das pernas dele. Medo de convidá-lo a entrar, medo de deixá-lo ir. medo da vergonha que vem junto da sinceridade. Medo da perfeição que não interessa. Medo de machucar, ferir, agredir para não ser machucada, ferida, agredida. Medo de estragar a felicidade por não merecê-la. Medo de não mastigar a felicidade por respeito. Medo de passar pela felicidade sem reconhecê-la. Medo do cansaço de parecer inteligente quando não há o que opinar. Medo de interromper o que recém iniciou, de começar o que terminou. Medo de faltar as aulas e mentir como foram. Medo do aniversário sem ele por perto, do convívio sem alguém para se mostrar. Medo de enlouquecer sozinha. Não há nada mais triste do que enlouquecer sozinha. Você tem medo de já estar apaixonada.
    Triste realidade =/

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    1. Eita Mell esse texto é do Fabrício Carpinejar?

      Poxa! Disse tudo, tive tanto medo e no fim todo o medo se tornou real rsrsrs
      Vai ver medo é um aviso:
      "Amiga vc vai ferrar com o coraçao" rsrs

      Ah Melzinha, mas aprendi uma coisa andando de patins. Vale apena ferrar com o joelho, se a gente aprende a flutuar!

      Eu flutuei. Agora vou usar merthiolate rsrs

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  4. E juh, só vou dizer mais uma cosinha(juro que é a última )
    Todos os amores são conchas vazias, todos os corações um dia são partidos. Mas quando a gente encontra alguém pra deitar do nosso lado e contar estrelas com a gente, é como se uma pérola só nossa brotasse dentro da concha e fizesse a gente esquecer o escuro e a solidão. Eu sei que você tem medo e eu também tenho, mas a vida veio pra ser vivida e, se um dia roubarem a sua pérola tenha apenas uma certeza: você não vai morrer e quando menos esperar outra pérola nasce. O nosso amor é burro, mas é bom. Quem escolhe se esconder dele por segurança não se machuca, é fato, mas também nunca conta estrelas de madrugada e nem, no final da vida, tem um colar de lembranças para contar."
    só o que posso te dizer agora

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  5. Outro texto maravilhoso. Esse de Rani Ghazzaoui

    Esse me fez chorar. De verdade...

    Melhor eu ir dormir rs

    Bjs Melzinha, amo vc!

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  6. Ju, você é doce! E eu amo este teu estilo!
    Um beijO

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